O CAPITAL DE MARX: Valor NÃO é tempo de trabalho VID #3

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Em Marx, valor NÃO É tempo de trabalho.

Hoje existem muito mais estudos e escritos sobre O Capital do que nas décadas anteriores. Isso é muito bom. No entanto, as análises vulgares se proliferam como doença contagiosa. É o efeito colateral inevitável. Paciência!!!

Recentemente li um artigo onde o comentarista diz que o valor se define como determinada quantidade de "tempo de trabalho abstrato". A expressão é pomposa, afinal, se é uma quantidade de tempo de trabalho, só pode ser abstrato. No entanto, isso não tem nada que ver com a categoria de trabalho abstrato em Marx, que era pouco afeito a pleonasmos. "tempo de trabalho abstrato" é como dizer "subir para cima" ou "descer para baixo".

Quem identificava o valor com o tempo de trabalho era David Ricardo. Não Marx. Para Marx o tempo de trabalho (socialmente necessário, se se quiser) era apenas a medida do valor, sua determinação quantitativa. Mas qual seria a determinação qualitativa do valor? Exatamente o trabalho abstrato. Não é uma picuinha. 60% do primeiro capítulo do livro I de O Capital foi escrito para mostrar COMO, POR QUE MEIOS, DE QUE FORMA o valor era medido pelo tempo de trabalho. Aquilo que Ricardo afirmava dogmaticamente: valor é tempo de trabalho, para Marx era exatamente a pergunta a ser respondida. Como era possível o valor ser medido pelo tempo de trabalho já que o valor das mercadorias não é determinado previamente e conscientemente por ninguém? Aí entra o trabalho abstrato, que não irei resumir por aqui.

Só pra se ter uma ideia das profundas consequências desse erro, foi exatamente sobre a falsa concepção de que, em Marx, valor é tempo de trabalho que o maior crítico de O Capital construiu o seu edifício: Eugen Böhm Bawerk, o paladino da Escola Austríaca de Economia. E acreditem, levou mais de 20 anos para que as críticas de Bawerk fossem corretamente refutadas por Issac(k) Rubin.

Na sequência do texto desse mesmo comentarista, me deparei com a afirmação de que uma relação social elementar é a "troca do tempo de trabalho por um salário". Aí é a barbárie. Será que é a troca do "tempo de trabalho abstrato" por salário? NÃÃÃO. O salário não se troca por tempo de trabalho, se troca por força de trabalho, por uma determinação subjetiva dos indivíduos, por uma capacidade para fazer algo. O TRABALHO, o uso dessa capacidade que se materializa no TEMPO, NÃO TEM VALOR ALGUM. Aí reside todos os mistérios do modo de produção capitalista.

Citações relevantes para o tema:
TRABALHO E CAPACIDADE DE TRABALHO SÃO COISAS MUUUITO DIFERENTES
“Dizer capacidade de trabalho não é o mesmo que dizer trabalho, assim como dizer capacidade de digestão não é o mesmo que dizer digestão” (Capital I, Boitempo, p. 248). MERCADORIA NÃO É VALOR E USO E VALOR DE TROCA
“Quando, no começo deste capítulo, dizíamos, como quem expressa um lugar-comum, que a mercadoria é valor de uso e valor de troca, isso estava, para ser exato, errado. A mercadoria é valor de uso – ou objeto de uso – e ‘valor’ e não possui valor de troca quando considerada de modo isolado, mas sempre apenas na relação de valor ou de troca com uma segunda mercadoria de outro tipo” (Capital I, Boitempo, p. 136).
TEMPO DE TRABALHO É APENAS A MEDIDA DO VALOR
¨Os economistas clássicos jamais colocaram a seguinte questão: porque esse conteúdo assume aquela forma, e por que, portanto, o trabalho se representa no valor e a medida do trabalho, por meio de sua duração temporal, na grandeza de valor do produto de trabalho?” (Capital I, Boitempo, p. 155).

Artigo do autor do canal que trata da Teoria do Valor em Marx:
O papel da história no modo de exposição de O capital de Marx

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Комментарии
Автор

gustavo, mal comecei e já entendi mt coisa q tem aplicacao prática na minha vida enquanto trabalhador. Tem me ajudado a entender coisas que me irritam profundamente no trabalho. Esse entendimento me ajuda a, primeiro, saber de que lado estou e, segundo, a viver a vida apesar do trabalho e não para o trabalho. Obrigado.

errelage
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Tô lendo O Capital na fronte, ainda bem que fugi desses manuais. Muito bom você esclarecer essas coisas

danilod
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Não ficou claro na explicação de Gustavo a questão do valor em Marx. O que seria a medida qualitativa do valo, por exemplo?

gedalvoromeiro
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No cap IV pág 187 do livro 2, pela ediçao da boitempo, segundo parágrafo. Marx escreve:
... "se nosso fiandeiro, por exemplo, tem um grande estoque de algodão (portanto, boa parte de seu capital produtivo na forma de estoque de algodão), uma parte de seu capital produtivo se desvaloriza em consequência de uma queda dos preço de algodão."
FIca bem claro aqui, que o valor contido nesse estoque de algodão não foi o tempo necessário para produzir aquele algodão. mas o tempo socialmente necesário para produzir algodão.
Marx e seu microscópio, adoro.

leonardomeneghellifabbris
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Muito bom! Indica algum autor, além do seu minicurso, pra introdução?

fabinhos
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Eu vou ter que assistir a esse vídeo de novo, com mais calma, pois não entendi o significado de valor! Será que valor, segundo Marx, é medido pelo fetiche que a mercadoria causa no consumidor? Tipo uma bolsa fabricada pela mesma fábrica tem um valor se tiver uma etiqueta de uma marca desconhecida, mas se colocada uma etiqueta de uma marca famosa, o valor dessa mesma bolsa tende a aumentar pois aquela marca traz prestígio? É isso, gente?

samuel_honorato-hy
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E uma logica dialética.Só pode se chamar mercadoria quando se tem valor de troca.E contem valor de uso necessariamente.Acho que vc esta exagerando.

and
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Osh, mas isso não era óbvio?
É claro que valor atribuído a mercadorias no capitalismo tem se valor constituído por vários aspectos.

hgkoba
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Achei injustas suas críticas a Harvey, sobretudo em se tratando de dois trechos específicos, os quais se mostram perfeitamente entendíveis (como você mesmo reconhece em alguns momentos).

Queria pontuar duas questões:

1ª Harvey não fala que valor é tempo de trabalho. Se não me engano você não afirma isso no vídeo, mas faço essa ressalva porque como você passa das imprecisões acerca dessa abordagem de valor e emenda chamando Harvey de "picareta-mor", talvez, para alguns, fique má impressão sobre. No mais, fica como forma de instigá-los à leitura: Harvey não só discorda da afirmação de valor como tempo de trabalho, como reconhece, em página anterior a que escolheu criticar, que essa elaboração já fora feita por Ricardo:

"Uma das razões por que Marx dispensou essa apresentação enigmática do valor de uso, do valor de troca e do valor é que qualquer um que tenha lido Ricardo poderia dizer: “Isso é Ricardo!”. E é de fato puro Ricardo, com exceção de um acréscimo. Ricardo enfatizou o conceito de tempo de trabalho como valor. Marx usa o conceito de tempo de trabalho socialmente necessário. O que Marx fez foi reproduzir o aparato conceitual ricardiano e, ao que parece, inserir inocentemente uma modificação. Mas essa inserção, como veremos, faz uma enorme diferença. Somos imediatamente forçados a perguntar: o que é socialmente necessário? Como isso é estabelecido, e por quem? Marx não dá uma resposta imediata, mas esse é um tema que percorre de ponta a ponta O capital. Quais são as necessidades sociais embutidas no modo de produção capitalista?" (p.22).

Harvey irá, adiante, esclarecer o conceito de valor, mas nunca o reduzindo a tempo de trabalho, e sim tempo de trabalho socialmente necessário, portanto, relação social.

Inclusive, é taxativo: "
Todas as tentativas de medir diretamente o valor estão condenadas ao fracasso." p.31. Ou seja, desse equivoco Harvey não bebe, sequer se aproxima.


2ª Agora sim, pontuando de fato o que crítica em Harvey, quando este diz que a mercadoria é valor de uso e valor de troca, acredito que o faça tendo por base a afirmação de Marx acerca do caráter duplo da mercadoria na sociedade capitalista: "Inicialmente, a mercadoria apareceu-nos como um duplo [Zwieschlächtiges] de valor de uso e valor de troca." p.96. A análise de Marx e, consequentemente, a "proposta de" Harvey aqui é analisar a mercadoria na sociedade e no seu modo de produção específico, não a entendendo de maneira isolada. Marx deixa isso claro quando diz, ao falar do valor de uso, que "Na forma de sociedade que iremos analisar, eles [os valores de uso] constituem, ao mesmo tempo, os suportes materiais [stofflische Träger] do valor de troca." p.93. Em seguida irá aprofundar a relação de valor existente nas relações de troca, haja vista que seja isso, em particular, o que lhe interesse descobrir. No mais, continuarei acompanhando o canal. :)



* As citações citadas acima são dos livros discutidos no vídeo "Para entender O Capital", de David Harvey, e "O capital", de Karl Marx.

robsonferreira
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