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Pudesse Eu [Pequeno poemário de Sophia, Nr. 2] de Eurico Carrapatoso
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Desenhos de Carla Morais (2001)
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen | Coro de Câmara Lisboa Cantat - dir. Jorge Alves
CD MURECORDS-ARTEDASMUSAS MU 0105 - Editado em Dez.2008
***
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!
Sophia de Mello Breyner Andresen
Pequena nota
Ouvi esta minha obra pela primeira vez em directo, na Antena 2.
Tinha ido buscar os meus filhos ao Liceu. Eram 19h. Estávamos em plena 2ª Circular, no meio do engarrafamento. Fomos apanhados de surpresa. O mundo inteiro e limpo da poesia de Sophia caiu-nos em cima. Elevou-nos à quintessência. E quando a música acabou, estávamos longe, com olhos grandes de vitela, de um negro líquido, a fitar um lugar errante.
Os meus filhos acabavam de assistir ali, em directo, a uma reencarnação do pai em matéria volátil que pairava num ectoplasma hertziano sobre a 2ª Circular. Eu não estava apenas ao volante. Aos seus olhos, a poesia de Sophia resgatara-me e dera-me, através dos meus signos ao colo daquelas vozes, uma agilidade improvável de corpo celeste.
Eu, um pouco como Arthur Rubinstein que gostava de observar o êxtase em pessoas improváveis, tais como as camareiras dos hotéis para quem tocava de robe, provocando-as, estudos transcendentais de Listz, fui procurando, de entre os cidadãos engarrafados da 2ª Circular, quem poderia, pela expressão do rosto, estar sintonizado na Antena 2. A maior parte ria com as tontarias dos humoristas da TSF. Mas vi três ou quatro condutores com as sobrancelhas oblíquas e aquele ar inconfundível de sapo ausente que as pessoas que sofrem de humores melancólicos costumam ter.
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen | Coro de Câmara Lisboa Cantat - dir. Jorge Alves
CD MURECORDS-ARTEDASMUSAS MU 0105 - Editado em Dez.2008
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Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!
Sophia de Mello Breyner Andresen
Pequena nota
Ouvi esta minha obra pela primeira vez em directo, na Antena 2.
Tinha ido buscar os meus filhos ao Liceu. Eram 19h. Estávamos em plena 2ª Circular, no meio do engarrafamento. Fomos apanhados de surpresa. O mundo inteiro e limpo da poesia de Sophia caiu-nos em cima. Elevou-nos à quintessência. E quando a música acabou, estávamos longe, com olhos grandes de vitela, de um negro líquido, a fitar um lugar errante.
Os meus filhos acabavam de assistir ali, em directo, a uma reencarnação do pai em matéria volátil que pairava num ectoplasma hertziano sobre a 2ª Circular. Eu não estava apenas ao volante. Aos seus olhos, a poesia de Sophia resgatara-me e dera-me, através dos meus signos ao colo daquelas vozes, uma agilidade improvável de corpo celeste.
Eu, um pouco como Arthur Rubinstein que gostava de observar o êxtase em pessoas improváveis, tais como as camareiras dos hotéis para quem tocava de robe, provocando-as, estudos transcendentais de Listz, fui procurando, de entre os cidadãos engarrafados da 2ª Circular, quem poderia, pela expressão do rosto, estar sintonizado na Antena 2. A maior parte ria com as tontarias dos humoristas da TSF. Mas vi três ou quatro condutores com as sobrancelhas oblíquas e aquele ar inconfundível de sapo ausente que as pessoas que sofrem de humores melancólicos costumam ter.
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