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Crise em 2015: o ano em que o Brasil andou para trás
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Crise em 2015: o ano em que o Brasil andou para trás.
Faz alguns anos, muitos economistas deram o recado: a economia brasileira havia tomado um rumo equivocado, com um governo gastador e interventor demais. Pagaríamos com isso? Sim, isso também foi avisado: viriam o baixo crescimento da atividade econômica e outros males.
Infelizmente, estavam certos. E 2015 foi o ano em que a fatura começou a ser cobrada.
O ano de 2014 havia terminado com as contas públicas numa situação muito delicada. Lembre-se bem: a economia vinha desacelerando desde o começo da década de 2010; no primeiro semestre de 2014, presenciamos os primeiros sinais da recessão, com forte diminuição do PIB no segundo trimestre, logo antes da Copa do Mundo.
Depois da Copa, piada pronta: perdíamos também de 7 a 1 na economia, com inflação rondando perto de 7% e o crescimento abaixo de 1%. E, para piorar, nosso déficit em conta corrente – uma medida de nossa necessidade de financiamento externo – chegava a níveis desconfortáveis.
Voltando novamente para 2014 para entender o que foi 2015: às vésperas das eleições presidenciais, houve um forte aumento do gasto público que deveria ser corrigido; a defasagem de preço dos combustíveis havia cavado um buraco na Petrobrás e nos negócios dos produtores de etanol; e o governo estava sangrando com os subsídios para manter o preço da eletricidade artificialmente baixo.
Ao mesmo tempo, as investigações da Lava Jato expunham as relações espúrias entre políticos e executivos da Petrobras e grandes construtoras.
Sem um ajuste fiscal de verdade, cortando gastos ou aumentando impostos, nosso grau de investimento não sobreviveria até o fim de 2015. Sem o grau de investimento, pagaríamos mais caro por financiamento externo e nossa moeda perderia poder de compra (em outras palavras, seríamos mais pobres).
Joaquim Levy assumiu o Ministério da Fazenda com a missão de salvar a economia. Logo nos primeiros meses de 2015, vimos ajustes nos preços dos combustíveis e das tarifas de eletricidade, assim como medidas para aumentar a arrecadação do governo.
Mas o corte necessário de gastos não veio.
Os únicos cortes substanciais de gastos aconteceram onde não são bem-vindos, isto é, no investimento público. No entanto, não foram resultado de decisões de política econômica, mas consequência da desorganização do setor de construção relacionada à Lava Jato. Afinal, operação da Polícia Federal levou altos dirigentes de construtoras para o cárcere.
O investimento do setor privado também despencou, com a queda no preço do petróleo e metais que levaram a um repensamento do plano de investimento do setor extrativo mineral (mineradoras e petroleiras).
Ainda em 2014 havia uma crescente preocupação com o mercado de trabalho. Em 2015 tornou-se evidente que a preocupação tinha fundamento. Mês após mês os dados de desemprego nas grandes cidades surpreendiam para cima, enquanto a destruição de postos de trabalho batia recordes históricos.
O consumidor tomava nota e logo os números do varejo mostraram quedas nas vendas. Em particular, o efeito negativo se abateu sobre itens duráveis de consumo, como automóveis e linha branca.
Entramos em recessão – ou, usando os termos adequados, nos metemos é numa baita de uma recessão. E aí nosso sistema político fracassou. Apesar da evidente necessidade de um ajuste fiscal (gastar menos do que se arrecada) que evitasse a perda do grau de investimento, o governo se recusou a assumir o ônus de impor medidas impopulares. Ou seja, o governo continuava gastando mais do que arrecadava.
O dólar, que fechou 2014 valendo 2,65 reais, bateu em 4,17 reais em setembro.A inflação, que já sabíamos que estaria acima do teto de 6.5% da meta, passou dos 10% ao ano.
Quase ao mesmo tempo, o governo novamente fracassou em mostrar disposição para fazer o ajuste fiscal. E sinalizou superávit primário de 0,5% para 2016.
Enquanto a economia mundial deve crescer aproximadamente 3%, nossa economia encolheu uma média de 3,7%. A inflação passou dos 10% ao ano pela primeira vez em mais de uma década. E o dólar está na casa dos 4 reais.
Fonte:
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Faz alguns anos, muitos economistas deram o recado: a economia brasileira havia tomado um rumo equivocado, com um governo gastador e interventor demais. Pagaríamos com isso? Sim, isso também foi avisado: viriam o baixo crescimento da atividade econômica e outros males.
Infelizmente, estavam certos. E 2015 foi o ano em que a fatura começou a ser cobrada.
O ano de 2014 havia terminado com as contas públicas numa situação muito delicada. Lembre-se bem: a economia vinha desacelerando desde o começo da década de 2010; no primeiro semestre de 2014, presenciamos os primeiros sinais da recessão, com forte diminuição do PIB no segundo trimestre, logo antes da Copa do Mundo.
Depois da Copa, piada pronta: perdíamos também de 7 a 1 na economia, com inflação rondando perto de 7% e o crescimento abaixo de 1%. E, para piorar, nosso déficit em conta corrente – uma medida de nossa necessidade de financiamento externo – chegava a níveis desconfortáveis.
Voltando novamente para 2014 para entender o que foi 2015: às vésperas das eleições presidenciais, houve um forte aumento do gasto público que deveria ser corrigido; a defasagem de preço dos combustíveis havia cavado um buraco na Petrobrás e nos negócios dos produtores de etanol; e o governo estava sangrando com os subsídios para manter o preço da eletricidade artificialmente baixo.
Ao mesmo tempo, as investigações da Lava Jato expunham as relações espúrias entre políticos e executivos da Petrobras e grandes construtoras.
Sem um ajuste fiscal de verdade, cortando gastos ou aumentando impostos, nosso grau de investimento não sobreviveria até o fim de 2015. Sem o grau de investimento, pagaríamos mais caro por financiamento externo e nossa moeda perderia poder de compra (em outras palavras, seríamos mais pobres).
Joaquim Levy assumiu o Ministério da Fazenda com a missão de salvar a economia. Logo nos primeiros meses de 2015, vimos ajustes nos preços dos combustíveis e das tarifas de eletricidade, assim como medidas para aumentar a arrecadação do governo.
Mas o corte necessário de gastos não veio.
Os únicos cortes substanciais de gastos aconteceram onde não são bem-vindos, isto é, no investimento público. No entanto, não foram resultado de decisões de política econômica, mas consequência da desorganização do setor de construção relacionada à Lava Jato. Afinal, operação da Polícia Federal levou altos dirigentes de construtoras para o cárcere.
O investimento do setor privado também despencou, com a queda no preço do petróleo e metais que levaram a um repensamento do plano de investimento do setor extrativo mineral (mineradoras e petroleiras).
Ainda em 2014 havia uma crescente preocupação com o mercado de trabalho. Em 2015 tornou-se evidente que a preocupação tinha fundamento. Mês após mês os dados de desemprego nas grandes cidades surpreendiam para cima, enquanto a destruição de postos de trabalho batia recordes históricos.
O consumidor tomava nota e logo os números do varejo mostraram quedas nas vendas. Em particular, o efeito negativo se abateu sobre itens duráveis de consumo, como automóveis e linha branca.
Entramos em recessão – ou, usando os termos adequados, nos metemos é numa baita de uma recessão. E aí nosso sistema político fracassou. Apesar da evidente necessidade de um ajuste fiscal (gastar menos do que se arrecada) que evitasse a perda do grau de investimento, o governo se recusou a assumir o ônus de impor medidas impopulares. Ou seja, o governo continuava gastando mais do que arrecadava.
O dólar, que fechou 2014 valendo 2,65 reais, bateu em 4,17 reais em setembro.A inflação, que já sabíamos que estaria acima do teto de 6.5% da meta, passou dos 10% ao ano.
Quase ao mesmo tempo, o governo novamente fracassou em mostrar disposição para fazer o ajuste fiscal. E sinalizou superávit primário de 0,5% para 2016.
Enquanto a economia mundial deve crescer aproximadamente 3%, nossa economia encolheu uma média de 3,7%. A inflação passou dos 10% ao ano pela primeira vez em mais de uma década. E o dólar está na casa dos 4 reais.
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