A História da Música João e Maria de Chico Buarque

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Letra da música:

João e Maria

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava um rock para as matinês
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país
Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade
Acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?

@chicobuarquevevo1990

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Комментарии
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Realmente, o Chico Buarque é um grande cantor e compositor, e essa música é uma das mais lindas que temos

poncianorocha
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Muito linda me emociono toda vez que ouço, me sinto dentro dela ❤😅

mariaines
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Amo essa música. A minha favorita das de Chico

joceliobritto
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Adoro é muito linda essa música obrigada

mariazoraidepereiradasilva
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"Cantilena"

Eu tinha 25 anos em Abril de 1990 e minha vida toda acontecia pelo Centro de Curitiba. Morava numa quitinete a 200 metros do grande Teatro Guaíra que então anunciava a volta de Chico Buarque à cidade depois de dois anos de ausência. O ingresso mais barato, no 2° Balcão, custava Cr$ 3.500, 00, o que valia dizer: quase um terço do meu salário no Pantera cor-de-rosa.

O Pantera cor-de-rosa era um restaurante que funcionava da meia-noite às 8h da manhã, incrustado na boca do lixo curitibana, mas oferecia a melhor costela bovina assada da cidade e para lá iam as putas atrás de clientes, os velhos atrás das putas, na retaguarda delas os cafetões e havia os travestis, os estudantes e os alcoólatras em busca de bebida barata e, claro, iam todos atrás de comer a costela, única coisa que por lá se fazia rezando.

Eu era o faz-tudo do Pantera cor-de-rosa: garçom e segurança, churrasqueiro e barman, psicólogo das bichas que juravam que iam se matar, mas nunca morriam e voltavam pra mais costela assada e pra prometer novos suicídios que não aconteceriam. Eu era o faz-tudo a ponto de substituir Jair Gogó, o crooner do Pantera, em suas incontáveis faltas ao serviço. Eu não ia mal com o microfone nas mãos, principalmente quando cantava alguma do Chico.

"Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz".

Eu gostava especialmente dessa porque falava em ser juiz, era o meu sonho. Antes de iniciar o expediente no Pantera eu frequentava as aulas de Direito na Faculdade Curitiba, das 18h50 às 23h e saía de lá para o trabalho no restaurante que oferecia a melhor costela assada da cidade.

Isso era Abril de 1990 e eu ganhava 12 mil cruzeiros para ser o faz-tudo do Pantera, mas tendo de pagar o aluguel da quitinete, a faculdade e outras contas é claro que eu não teria os 3.500 cruzeiros pro ingresso, pra poder ver e ouvir o Chico. Aquilo me enchia de tristeza e quem é metido a poeta, quando se entristece, fica cheio de versos.

Aí teve uma noite que me lembrei da Fernanda, um amor que tivera um ano antes, amor que durou exatamente 3 semanas e que ainda me arrancava lágrimas e versos. Daí vocês devem pensar "Só 3 semanas e marcar tanto assim?". É que o amor tem dessas armadilhas: veneno de Cascavel que mata um boi com apenas 5 gotas, que dirá um homem. E a Fernanda me mordeu o pescoço, deve ter sido isso: o veneno na jugular foi pra cabeça, pro coração, mas não me matou, me fez mais vivo, se é que vive quem anda por tudo sofrendo de amor.

Foi numa aula de Direito Penal que eu escrevi o verso pra minha Fernanda perdida: "Eu fico imaginando onde ela deve estar...". E mais não saiu. Arranquei a folha, dobrei e coloquei no bolso do paletó. Antes da meia-noite eu chegava ao Pantera. Noite do show do Chico e eu perdera.

Às duas horas da manhã, rebuliço na porta do Pantera. Mandaram me chamar: era o Chico Buarque querendo provar da melhor costela bovina assada de Curitiba. Na hora eu pensei que era sacanagem do Aderbal, espécie de segurança e manobrista da casa, mas o Chico tava lá com um pedido inusitado: me levem pra cozinha, quero cerveja gelada, feijão, farofa e costela. E se tiver uma pimentinha dedo de moça, agradeço.

Coube a mim guiá-lo pelos corredores estreitos do Pantera, numa fuga da portaria à cozinha, por entre engradados vazios de cerveja, que se empilhavam no caminho que terminaria enfim no espaço onde a churrasqueira, toda noite, fazia o milagre de multiplicar a carne.

Eu mesmo atendi o Chico, dei-lhe costela assada e farofa, feijão, arroz soltinho e pimenta, levei-lhe a cerveja mais gelada e ao final queijo com goiabada. O violão foi notado e ele tocou Carolina. Aplaudi. Ele agradeceu sem jeito e tirou de entre os dentes um fiapo de costela. Daí riu um riso tão espontâneo que terminou em tosse. E sentenciou: "Vou armado de dentes e coragem/Vou morder sua carne selvagem...". E riu de novo e tossiu.

Quando ele se preparava pra ir embora tomei uma coragem que nunca tivera: Chico, faz comigo uma letra? E retirei do paletó meu poema de um verso só: "Eu fico imaginando onde ela deve estar...". Ele quis saber quem era ela e eu só consegui dizer que a Fernanda era mais que a minha vida, era a razão de eu estar vivo. E retirei do bolso um retrato dela. "Outro retrato em branco e preto?", ele falou antes de rir e de tossir de novo.

Pediu-me caneta, pediu que eu sentasse, acendeu um cigarro, afrouxou ainda mais a gravata e escreveu:

"Eu fico imaginando onde ela deve estar
Se os seus olhos inda brilham à luz do luar
Se ela se perde em doces cantos,
Feito as sereias que singram o mar
Eu fico imaginando onde ela deve estar.

Eu vivo a inquietude de ela me chamar
Na noite escura, no meio da rua, a me procurar
E me arrasto tão sozinho, feito fantasma pelo bulevar:
Imaginando sempre onde ela deve estar.

E eu me perdendo em desvarios
Tudo doendo só de imaginar
Que noutros braços ela estaria
Pois nos meus braços ela já não está
E eu sigo triste a minha sina de pensar
Que a vida seguirá sem ela pra me acompanhar!"

O Chico me entregou o papel e perguntou se eu tinha gostado. Só não chorei sobre a folha com medo de molhar o papel e lhe apagar os versos. Atônito corri pegar outra cerveja, tomamos juntos a garrafa e depois mais cinco.

Eram 6h da manhã quando ele foi embora. A conta foi minha, fiz questão. Antes de colocá-lo em segurança no táxi, perguntei: "Que título boto no poema, Chico?". Ele riu de tossir e batizou: "Cantilena!", e o táxi arrancou antes que eu soubesse o porquê.

Chegando em casa, tirei do bolso a foto da Fernanda e o poema do Chico. Não dava pra saber o que era mais lindo diante dos meus olhos. Tem dias que eu duvido que eles tenham algum dia existido em minha vida ou se são apenas frutos dessa minha imaginação: "Fragmentos de cartas, poemas, mentiras, retratos".

No outro dia lembro que subi ao palco acanhado do Pantera, inventei uma música e cantei a letra que me fizera o Chico. Ninguém me deu ouvidos. Nem as putas, nem os bêbados, nem os travestis, nem os estudantes. Saí resignado do palco com o meu fracasso e fui tratar de meus outros tantos afazeres na casa, afinal eu era o faz-tudo e por isso ganhava meus 12 mil cruzeiros por mês, naquele Abril de 1990.

Trinta anos se passaram. Qualquer dia eu ainda volto ao Pantera, comer da melhor costela bovina assada de Curitiba, tomar da cerveja gelada e quem sabe cantar a música que fiz com o Chico, ou melhor: que dele ganhei. Quanto ao sonho dos tempos de Faculdade: eu me tornei Juiz e, pela minha Lei, a gente é obrigado a ser feliz!

rafaellemos
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canalahistoriadamusica
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Eu associava a letra à ditadura militar

angelodoreto
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