Cuidados Nutricionais após Cirurgia Bariátrica

Autoria: Dra. Mariana Santos - Nutricionista

A cirurgia bariátrica tem-se revelado uma ferramenta muito útil no tratamento da obesidade, permitindo uma perda ponderal sustentada com consequente melhoria da qualidade de vida dos doentes e controle de muitas das patologias associadas (ex.: diabetes e hipertensão).

No entanto, é fundamental ter em conta que para alcançar os resultados desejados e para garantir o sucesso a longo prazo são necessários cuidados nutricionais específicos, que devem ser adaptados a cada etapa do percurso pós-cirúrgico, ao tipo de cirurgia realizada e às características de cada indivíduo.

Durante o pós-operatório, o acompanhamento nutricional tem como principal objetivo a adequação da dieta à condição do doente, por forma a garantir um aporte nutricional adequado que permita simultaneamente a perda de peso e sobretudo de massa gorda, minimizando os défices vitamínicos e/ou minerais que daí podem ocorrer.

O processo de adaptação alimentar no pós-cirúrgico engloba genericamente 3 etapas:

1 - Dieta Líquida

Esta fase tem uma duração aproximada de 3-4 semanas e é fundamental para não comprometer o sucesso da cirurgia e para permitir uma adaptação progressiva do organismo à presença de alimentos. Neste período, os doentes deverão seguir uma alimentação bastante fracionada ao longo do dia (7-8 refeições), ingerindo pequenos volumes por refeição. Para garantir um aporte de macronutrientes suficiente, a suplementação nutricional nesta fase torna-se crucial e deverá ser adaptada consoante o tipo de cirurgia realizada e as possíveis intolerâncias alimentares de cada doente.

2 – Dieta Mole

Sensivelmente após o primeiro mês de cirurgia, deverá ser realizada uma nova avaliação nutricional do doente onde é feita uma avaliação antropométrica completa e avaliada a tolerância do doente à dieta líquida. A partir deste momento, o doente estará apto a progredir a dieta para uma alimentação de consistência mole, onde são incluídos uma maior diversidade de alimentos face ao ingerido na dieta líquida. Por este motivo, a suplementação proteica e/ou energética é normalmente suspensa nesta etapa, mas a suplementação vitamínica e mineral deve manter-se a longo prazo.

A dieta mole tem uma duração variável porque depende da tolerância digestiva de cada indivíduo; no entanto, é aconselhável que dure, pelo menos, 15-30 dias.

Para garantir uma progressão de consistência adequada, é fundamental que os doentes mastiguem muito bem os alimentos e que demorem cerca de 30 minutos a completar cada refeição, evitando desta forma enfartamento precoce, náuseas ou desconforto gástrico/intestinal.

Progressivamente – e de acordo com a tolerância individual – o doente deverá evoluir para uma alimentação com uma consistência sólida, mantendo o tipo e quantidade de alimentos indicados no plano da dieta mole.

3 – Diversificação Alimentar

A partir do 3º-4ºmês pós cirurgia, o doente deverá ser sujeito a uma reavaliação nutricional e estará apto a diversificar a sua alimentação.

Nesta fase, o doente deverá manter as quantidades previstas no plano alimentar anterior, mas passará a incluir novos grupos alimentares, potenciando uma alimentação o mais equilibrada e variada possível, devendo manter restrição de açúcares e gorduras.

Pelo facto de a cirurgia bariátrica potenciar uma rápida perda de peso, um correto aporte proteico deve ser garantido para minimizar a perda de massa magra. Assim, é importante a avaliação sistemática da necessidade de reintrodução de suplementação nutricional ao longo do processo de perda ponderal.

No fundo, o acompanhamento nutricional permite ajudar o doente a adaptar a alimentação à sua nova realidade e adequar o plano alimentar ao longo do tempo para que esteja sempre em concordância com o processo de regulação do peso corporal e para que o sucesso da cirurgia seja assegurado.

Por último, é importante salientar que cada caso é único e que por isso toda a abordagem nutricional deve ser individualizada e personalizada à técnica cirúrgica realizada, ao objetivo do doente e às suas preferências e intolerâncias alimentares.

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