O verdadeiro criador de tudo – como o cérebro humano esculpiu o universo como nós conhecemos

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Palestra de inauguração do Prof. Miguel Nicolelis feita no Congresso do GETRAB-USP, realizado no dia 04/03/2021 em parceria com a OAB-CE, sobre Impactos da tecnologia e da neurociência no mundo do trabalho.

O professor Miguel Nicolelis contextualiza sua fala a partir da história da civilização humana, examinada em seu livro “O Verdadeiro Criador de Tudo. Como o Cérebro Humano Esculpiu o Universo Como Nós o Conhecemos” (2ª. ed., São Paulo: Crítica, 2020). O ponto central, como enfrentado nesse livro, é o embate envolvendo “qual abstração mental vai dominar a mente coletiva da humanidade”? Assim, os gregos e persas, a Igreja Católica, grupos sociais humanos, cada civilização entendia o mundo de uma forma. O cérebro humano é quem cria o mundo em que vivemos. Tudo o que nós fazemos tenta explicar o universo que nos cerca e criar modelos de convivência civilizatórios.

Porque a abstração mental (como mercados, visões religiosas e mitos econômicos) se transformou em coisas mais importantes que a nossa vida. Não se pensou em preservar o planeta, seu ecossistema, diminuir a desigualdade social, melhorar as condições de trabalho. A opção foi apostar em outras abstrações.

Como exemplo de abstração, o autor sugere três diferentes visões cosmológicas distinta, criadas pelo Verdadeiro Criador de Tudo, em diferentes momentos da história (vide p. 23, do livro citado):

1- O “Salão dos Touros”, da caverna Lascaux (Capela Cistina, da pré-história). Nessa pintura, o homem não aparece, apenas os animais e a natureza. Nessa época, dominava a mente humana coletiva, ressaltando-se a natureza, o xamanismo. Os deuses eram: os céus, representações de touros, animais
selvagens; com exceção de pequenas mãos, os autores não aparecerem.

2 – Afrescos da Capela Sistema, de Michelangelo. Deus antropomórfico concede o toque de vida a um mortal, Adão. Na renascença italiana, o homem ocupava papel central.

3 – Big Bang: Ultimo mapa do universo, de acordo com a NASA – centro da cosmologia humana é uma explosão, cujo antecessor ninguém sabe quem é. O homem foge do centro da explicação do universo. Melhor visão na opinião do palestrante.

As abstrações são muito simples: ilusão de ótica: triângulo branco dentro de um triangulo preto e esferas com pequenos cortes. Fenômeno de feeling in: o cérebro está criando a imagem para nós, apesar da imagem não ter sido criada intencionalmente (o triangulo branco não foi criado). E é basicamente o que nós fazemos: olhamos para o mundo ao nosso redor, nós temos um cérebro, que evoluiu com o ambiente, e criou ferramentas para tentar explicar o que existe aqui fora: a verdade absoluta não vai existir (New Born/Einsten). Mas podemos tentar avançar.

Como esse processo se dá: uso do nosso sistema sensorial para inquirir e observar o universo real que existe lá fora, que é uma fonte de informação potencial. Uma vez que isso é transmitido para o sistema nervoso central, ele compara esse novo pedaço de informação com o seu modelo de realidade, e começa a gerar abstrações mentais para criar uma descrição do universo humano, que é a melhor no limite do que há lá fora. Noção de espaço/tempo, religião/filosofia, estocadas em memórias orgânicas/analógicas (cérebro não é digital) que nos permite criar linguagem, ferramentas, e até chegar ao limite que os nossos
pensamentos enxergam o mundo.

A definição do nosso corpo e da nossa identidade é uma abstração mental, como a crença de algum de que alguém nas nuvens coordena todo o show.

Como uma abstração mental evoluiu nos últimos milênios: o dinheiro é um ótimo exemplo. Antes de Cristo: comércio era feito por meio de coisas tangíveis. Assim, entre os babilônios era a cevada; entre os Astecas,
o cacau; na Malásia utilizavam-se metais, como ouro na Mesopotâmia. O Rei da Lídia criou a noção da moeda, chamada elétron. Essa ideia explodiu e com a invenção do papel, surgiu o dinheiro.

Brainet de seis: rede de cérebros. Não só explicam sociais locais (peixes, formigueiro, etc), as brainets humanas se espalham no tempo e no espaço. Petrus Peregrinus, em 1269, descreveu o eletromagnetismo, mas levou muitos anos para que Eillian Gilbert descrevesse o que o Petrus tinha visto. Eletromagnetismo é fenômeno que a mente humana codificou, matematizou e criou como ferramenta para explicar a realidade.

Da matéria orgânica que forma o nosso cérebro, aliado com uma nova forma de informação que o palestrante chama de Informação Godeliana (memórias, sistemas motores sensoriais), nós criamos o universo humano.

(resumo da palestra continua nos comentários)
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Комментарии
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Ouvindo o prof.e o que faz, , impossível um cérebro eletrônico fazer, qto o nosso cérebro mudar p outro hospedeiro, ,,,acredito

ivanimartins
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(continuação do resumo)

E o que tudo isso tem a ver com o trabalho? O que está bem demonstrado no livro: o cérebro é o sistema mais complexo com que temos contato, porque é formado por múltiplos níveis de organização. Não existe nenhum computador que consegue reproduzir o cérebro humano, na opinião do palestrante.


E esse é o grande drama, porque na sociedade moderna se criou um mito de que os sistemas digitais vão
substituir os seres humanos. Mas o perigo maior é que nós estamos fazendo com que o cérebro assuma a lógica digital. Dessa forma, o cérebro humano assumirá uma forma de sobreviver no mundo moderno, e estamos introduzindo um grave problemas envolvendo desenvolvimento cognitivo, criando um “novo cérebro”.


Se as recompensas e a minha sobrevivência dependerem de como eu me comportarei, o cérebro assim o
fará, porque ele se adapta ao mundo exterior, para que a espécie, que é a minha hospedeira, sobreviva nesse novo mundo. O cérebro é plástico.

Dessa forma, não é possível que a máquina venha a substituir o cérebro. Todavia, a mente humana está
sendo insculpida a ponto de minar seus maiores atributos: empatia, intuição, criatividade e inteligência - não existe inteligência artificial; há uso indevido do termo, porque inteligência é uma característica orgânica,

de seres vivos.

A automação digital do trabalho está mudando completamente a interação que rege empregador/empregado. O desemprego cresce, mas pior que isso, o aumento do controle do conhecimento e dos canais de disseminação que passam a ser a disputa laboral. Os meios de produção serão

automatizados, mas quem vai decidir?

A batalha do futuro, agora no século XXI, é pela democratização do acesso ao conhecimento, à informação e aos meios de comunicação e educação, impondo-se um contrato social totalmente novo. Nesse sentido, a neurociência tem papel fundamental porque é o cérebro humano que vai reger essa discussão, escrever o novo cânone legal e o cérebro que será impactado por esse novo contrato social. O cérebro é o epicentro da cosmologia humana. Não é o sistema solar, é a nossa mente, porque é ela quem cria a realidade.

Resumo de autoria da pesquisadora Paula Castro Colesi

Professor Doutor Miguel Nicolelis possui Graduação em Medicina, pela Universidade de São Paulo (1984) e doutorado em Ciências (Fisiologia Geral) pela
Universidade de São Paulo (1989) e pós-doutorado em Fisiologia e Biofísica pela Universidade de Hahnemann. Atualmente é professor titular do Departamento de Neurobiologia e Co-Diretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University (EUA), professor do Instituto Cérebro e Mente da Escola Politécnica Federal de Lausanne (Suíça) e Presidente do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS). Tem experiência na área de Fisiologia, com ênfase em Neurofisiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: informática médica, eletrofisiologia, sistemas sensoriais, sistema somestésico e próteses neurológicas.

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