Entre mŷthos e lógos na tradição eleática: Parmênides

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Desdobrando os elementos da série de vídeos dedicados à disciplina "Fundamentos de Literatura Grega Antiga II" da Faculdade de Letras (FALE) da UFMG, proponho algumas reflexões sobre um dos mais importantes "pré-socráticos" e sua obra: Parmênides de Eleia. À luz do que temos proposto sobre a tradição poética hexamétrica arcaica e o pensamento "pré-socrático" de seus ilustres predecessores - de Tales a Xenófanes, de Anaximandro a Pitágoras -, delineamos algumas ideias sobre os versos escritos por Parmênides e discutimos temas ontológicos, epistemológicos e, mais simplesmente, lógicos. Tentamos ter sempre em vista a dimensão poética dessa obra...

CRÉDITOS DA MÚSICA
Thanasis Kleopas
Hymn to Muse Kalliope and Apollo
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Комментарии
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Essa aula foi uma luz que nem sabia que precisava! Durante muito tempo, estudando a filosofia grega antiga, deixei-me levar por certas interrogações, principalmente referentes à complexidade da filosofia pitagórica e anaximandriana, que, certamente atuantes para o desarraigamento do pensamento às amarras da tradição mitológica, também, por outro lado, desenvolveram amplas teorias e conceitos do orfismo, por exemplo com o ultraterreno fim escatológico do pitagorismo, atribuindo às purificações o meio para libertar a alma do ciclo das reencarnações e levá-la a unir-se com o divino, a partir de uma rotina regrada de estudos e meditações.

Compreendendo a semelhança, a relativa indiferenciação, entre os termos mythos e lógos, na Grécia Arcaica, fica muito mais fácil conciliar vertentes do pensamento que a princípio me pareciam quase que opostas. Entender a narrativa como parte de um método, e o método como um caminho para um fim ulterior, seja este apegado a dimensões terrenas ou divinas, faz parte da compreensão de algumas tendências filosóficas de alguns dos pensadores da época.

Mais ainda, perceber tais permanências e encaixes, seja na própria forma dos poemas, com a utilização do hexâmetro dactílico, ou mesmo nos conteúdos e espelhamentos, sempre apropriados e apropriando-se, é de grande proveito. Muito obrigado, professor!

rafaelpublio
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É interessante como o lexo vai se diferenciando assim como há a diferenciação das estruturas textuais também vão evoluindo. Não só pelo crescimento, pelo surgimento de novas palavras, que vão expressar a mudança da realidade que está sendo vivida, como a diferença semântica que tal mudança carrega consigo.
Assim como a ordem do discurso vai sendo modificada e construída com a mudança da realidade, hoje recebemos as mesmas apenas como formas de discurso já concretizadas. O que nos faz perceber que houve sim um caminho para que na atualidade tenhamos o que entendemos como teorias filosóficas, que foram modificadas e construídas; discutidas e rediscutidas através dos séculos.
Ver que os fundadores da filosofia enquanto ciência, tem um precursor, Parmênides, que utilizou da linguagem discursiva que dispunha em sua realidade para iniciar a reflexão sobre a existência, conhecimento, valores, razão, mente e até mesmo a própria linguagem, mesmo que seja pela poesia pública extremamente arraigada à oralidade.
Confesso que acho injusto tais textos só serem abordados nos cursos de formação ao invés da educação básica.

fernandaporto
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Aula 9

Continuando a apresentação de alguns pensadores ditos “pré-socráticos”, na aula 9 vemos um pouco sobre Parmênides. Sua reflexão sobre o ser, sua ontologia, assim como a questão da opinião, são de fato instigantes e se provam ainda bastantes atuais. Tratar a opinião como não-confiável é essencial para podermos prosseguir o caminho em busca da verdade. Por mais óbvio que isso possa parecer, podemos perceber que há um caminho que vai justamente na contramão disso: alguns grupos de pessoas, por exemplo, com suas respectivas agendas, preferem ditar o que é o “certo” com base em suas próprias convicções; sem qual tipo de verificação com os fatos ou o que estudos comprovam. Notamos isso facilmente em várias dessas notícias em que alguns pais, que se julgam mais "entendedores" sobre questões didáticas e o papel do ensino em geral, querem ditar o que deve, ou não, ser estudado nas escolas.
Outro aspecto da aula que é bastante pertinente é a questão da interdisciplinaridade. Como apontado, utilizar conceitos e práticas modernas para abordar produções da Antiguidade, pode tornar por “enrijecer” o objeto, fazendo que percamos a capacidade de contemplá-lo por diferentes ângulos. Não compreendo porquê há ainda uma certa “recusa” (ou seria apenas uma dificuldade?) dos ensinos básicos em adotarem dinâmicas as quais as diferentes disciplinas são postas em diálogos. Por um lado, o ENEM já trabalha com essa possibilidade, mas na prática do ensino, ao menos em minha experiência, isso ainda parece bem longe.

alanfrancisco
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A aula aponta para a progressão especialização dos conceitos de logos e mythos. Em Platão, logos assume a perspectiva de argumento racional, pensado, refletido, aprimorado em termos de abstração, ao passo que mythos começa a ganhar contornos semânticos próximos a narrativa, enredo, àquilo que poderia ser argumentado sem o compromisso da razão estrita. Não obstante o uso mais especializado que, com o tempo, foi consolidando-se, é de se considerar que, durante o Período Arcaico, tanto o logos quanto o mythos conduziam o ser humano a importantes reflexões sobre a existência, sobre a vida na pólis, sobre questões éticas. O homem grego é herdeiro de uma tradição cultural, na qual a moralidade da vida pública e doméstica, assim como os raciocínios que impulsionavam o debate filosófico estavam intrinsecamente ligados, nesse período arcaico, aos conhecimentos obtidos por uma e outra via. Parmênides é herdeiro da tradição poética de Hesíodo, em que se verifica uma pluralidade de elementos míticos. Destes emergem elementos associados a “portais” e “caminhos”, que se desdobram em termos narrativos à guisa de uma iniciação, e que, mais adiante, abrirão ensejo para a ideia de “um caminho correto”, que poderia ser analisado e compreendido por meio do logos. Portanto, mythos poderia mostrar caminhos, dentre os quais o logos poderia discernir qual seria o caminho correto a ser, afinal, trilhado. Os mortais que não conhecessem esses caminhos emitiriam opiniões erradas, justamente porque não poderiam discernir qual o caminho correto.

Aluno Flavio A.G.Rosendo

Flavio
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[Comentário aula 12]: Olá, professor! Boa tarde. Que aula ótima, meus parabéns! Em um fragmento, que é escrito em forma de poema, onde a verdade foi revelada a Parmênides a partir da fala da deusa, contando a ele como conhecer o ser, há uma parte específica em que são postas as três vias: a do ser, a do não-ser e a via da opinião. Neste trecho, cito-o: "[...] esta via (pois ela está fora da senda dos homens), mas lei divina e justiça; é preciso que de tudo te instruas, do âmago inabalável da verdade bem redonda, e de opiniões de mortais, em que não há fé verdadeira. No entanto também isto aprenderás, como as aparências deviam validamente ser, tudo por tudo atravessando.", claramente pode-se dizer que a opinião dos mortais, a via da opinião para conhecer o ser não serve, pois ela é enganosa. Devemos nos instruir para procurar, através da via do ser, a verdade, o ser verdadeiro e a via do não-ser é um nada, e o nada simplesmente não é, logo não há possibilidade de conhecimento nela. A partir disso, podemos observar a importância do lógos como um certo tipo de "instrumento" capaz de nos ajudar a chegar à verdade, através da via do ser, sem deixar que nos enganemos com a via do não-ser, confundindo-a como sendo a mesma coisa que a vida do ser. Enfim, eu acho um poema belíssimo, sobretudo pela maneira pela qual as ideias filosóficas do filósofo foram expostas poeticamente.
Por hoje é só.
Abraços.

giulliarezende
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Aula X - Entre mythos e lógos na tradição eleática (Parmênides e Pitágoras).
Professor Rafael, Inicio reforçando sua fala de que os textos de filosofia, as escolas, os poetas e filósofos deveriam ser abordados de forma interdisciplinar. Neles, tem-se, perfeitamente condições para se abordar Filosofia, Letras, História, Geografia, dentre outros. Nesse vídeo abordou-se a transição da palavra mythos e lógos entre os períodos arcaico e clássico.
Vê-se no período arcaico o mesmo uso para a palavra mythos e lógos, usados indistintamente como palavra, discurso, fábula, para evoluir uma distinção entre esses dois termos; do mito presente em Homero e Hesíodo chegaríamos ao lógos, em Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Xenófanes e Parmênides – há uma evolução na ordem da narrativa, da ordem do pensamento racional. Parmênides, de Eléia (Magna Grécia) inaugura uma reflexão sobre “ser”, a ontologia que chega a Platão, a Nietsche, a Heideger

ofeliasouzavieira
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A aula 9 apresentou Parmênides de uma forma bastante diferente do que vi durante a época de escola, nas aulas de filosofia, algo que com certeza se aplica a vários autores levando em consideração a separação contemporânea das disciplinas. Isso é algo que comecei a reparar aos poucos quando comecei minha habilitação, mas principalmente com as aulas do semestre passado ‒ além de Literatura Grega I, com as opiniões que o professor apresenta acerca disso, também fiz História Antiga como Formação Livre, e na minha opinião deveria ser uma matéria obrigatória para os alunos das Letras Clássicas ‒ passei a concordar que a questão da Antiguidade vai além de apenas estudar alguns autores ou Latim e Grego, uma vez que precisamos, principalmente, entender o contexto histórico, o que inclui diversas questões. É uma pena que alguns autores sejam apenas parcialmente conhecidos por muitos ao serem estudados somente os aspectos “relevantes” para a disciplina. Gostei de Parmênides, apesar de achar bem mais complicado o estudo a seu respeito. Também achei muito interessante a questão das palavras mythos e lógos, sendo a segunda possivelmente já apresentando em sua obra o princípio da diferenciação que viria posteriormente.

sofiamorais
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AULA 9 (Entre “mýthos” e “lógos” na tradição eleática (Parmênides e Pitágoras): Achei engraçado como essa aula diverge de tudo o que eu sabia sobre Parmênides. Inclusive, ao longo da aula, senti uma completa defasagem no meu ensino sobre as questões levantadas e elaboradas em relação a Parmênides, e os pré-Socráticos como um todo. Tive um professor de filosofia no ensino médio particularmente cuidadoso em relação a como ele ensinava cada filósofo, mas percebo agora que a agenda dele, infelizmente, teve de se encaixar no pensamento moderno de segregar e impedir a interação interdisciplinar. Confesso que eu mesma sempre tive um pensamento que coloca humanas e exatas em extremos opostos quanto ao tipo de raciocínio, mas acredito que Parmênides tem um ponto muito relevante nesse aspecto. Afinal, como estudante de estudos literários, essa não é a constante reinvindicação que fazemos perante as outras ciências? De validação racional? Ou mesmo, irracional? Fiquei muito curiosa a respeito dos poemas de Parmênides, inclusive o trecho “comum, porém, é para mim de onde começarei; pois lá mesmo chegarei de volta outra vez” me lembra muito o segundo nome de “O Hobbit” do Tolkien: Lá e De Volta Outra Vez.”

giovanamachado
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Olá, Rafael, tudo bom? Confesso que Parmênides não é uma das coisas mais fáceis de se estudar. Achei muito legal o início da exposição tratando da questão do mŷthos e do lógos, primeiro utilizando-se da noção dos antigos, em que ambos os termos podem ser traduzidos como, tanto por “palavra”, como por “discurso”. Eu lembro das traduções do Heleniká, principalmente as fábulas de Esopo, em que havia aquelas famosas frases no final: Ὁ μῠθος δῆλοῖ ὅτι..., ou Ὁ λόγος δηλοῖ ὅτι…, que amarrava a questão central da fábula com o conselho direcionado para o ouvinte, em que ora o termo vinha como mŷthos, ora vinha como lógos e nós sempre éramos orientados a traduzir como “discurso”. Achei muito interessante também essa noção do distanciamento entre mŷthos e lógos proposto por Parmênides, aproximando o mŷthos do discurso da fantasia e o lógos do discurso da razão. É interessante como essa noção nos é muito mais clara hoje. Eu lembro, durante as traduções de Esopo, no Heleniká, que eu não entendia porque ora ele utilizava-se da palavra mŷthos e ora se utilizava da palavra lógos. Na minha cabeça moderna, achava estranho ele utilizar lógos, pois inconscientemente, eu já tinha essa noção de lógos enquanto discurso da razão, enquanto discurso da verdade, e isso, com certeza, vem, como você comentou, da apropriação das ideias de Parmênides por Platão e Aristóteles. Interessante pensar que os antigos não tinham nem a intenção, nem a distinção com relação a ruptura entre o literário e o filosófico. Achei muito pertinente a sua ponderação com relação à dificuldade de se reconhecer o objeto de estudo dessas noções propostas por Parmênides, ou seja, se elas deveriam figurar como objeto da filosofia ou como objeto da literatura. Outra coisa que me chamou bastante atenção foi o fato do apagamento da noção cosmológica de Parmênides no período moderno, principalmente as suas considerações acerca da natureza. Provavelmente aqui a questão do estilo e da forma prevaleceu sobre a questão do significado e do conteúdo de seu discurso. Outro ponto que eu gostaria de comentar é a questão da invocação à deusa. Interessante que, na Ilíada, a palavra grafada é θεὰ (theá), e não musa, embora os tradutores utilizem a palavra “musa” para traduzir a invocação à deusa. Acredito que seja porque não há dúvida de que o poeta está enfocando as musas deusas da memória. Já a Odisseia usa μοῦσα (musa) mesmo. De qualquer forma, acho hoje curioso, como, para nós, a concepção da verdade advinda de um deus soa relativamente falso, uma vez que, claro, nós estamos dentro de uma concepção moderna, em contato com os teóricos modernistas, logo após a morte de Deus, e já entendendo a religião como algo oposto a noção de razão. É claro que para os antigos esta acepção, para nós hoje tão familiar, era algo impensado. Achei bastante complexa a forma de numeração das citações ao poema e também concordo com você que a utilização da palavra fragmentação soa um pouco estranha. Com relação à noção de caminho correto, conforme você leu e mostrou nas citações DK28B1, B2, B3, etc., é interessantíssima a percepção do caminho da razão e da verdade determinados pela noção do “ser” em oposição à noção do “não ser”, este identificado como uma mera opinião, em que não se pode afirmar que existam conhecimentos seguros sobre ele. Toda essa construção poética filosófica é muito pertinente para os dias atuais, em que há uma grande pressão, principalmente dos apoiadores do presidente, que nós acompanhamos hoje pelas redes sociais e pela mídia, de uma construção da verdade, de uma construção do que “não é”, ou melhor, do “não ser”. E a dificuldade que é, mesmo com toda a nossa evolução científica e filosófica, de não só buscar e encontrar a razão e a verdade nessa noção do “ser”, mas também de conseguir instrumentalizar as pessoas para que elas tenham condições também de distinguir o caminho do “ser”, do caminho do “não ser”, ou seja, distinguir o caminho da razão e da verdade, em oposição ao caminho onde não há conhecimento seguro. Seriam estes os meus comentários para a aula de hoje. Um forte abraço e até a próxima aula.

Tristandusfrene
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Professor Rafael, parabéns pela ótima aula. Poderia me fornecer indicações de livros que comentam a recepção de Parmênides em Melisso de Samos?

pablomendozarojas
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O uso das palavras Mythos e Logos na nas tradições jônica e eleatica é muito próximo e significam discurso, narrativa, palavra. A diferenciação de seu uso acontece à partir de Heródoto, Hecateu, e mais tarde em Platão. À partir do sec IV ac seus significados já são distintos. Logos passa a significar um discurso racional e Mythos se refere à fábula, ao mito. Em Parmênedes já começamos a observar essa distinção, sugerindo que à partir de um pensamento Mythos racional se chega a um pensamento Logos. Parmênedes portanto, apesar de ser considerado o “pai da metafísica” fala a língua de Homero e Hesiodo.
Parmênides de Eleia foi o principal pensador da Escola Eleata. Suas teorias sucederam às ideias de Xenófanes e visavam a apresentar o imobilismo e a unidade como essência do surgimento do Universo. Parmênides fundou uma teoria que serviu de base para a filosofia platônica, e o seu embate com o pensamento de Heráclito forneceu bases para a filosofia desenvolvida pelos pensadores pluralistas. Hoje existe apenas fragmentos do poema de Parmênides intitulado Sobre a Natureza. Esse poema condensa toda a sua teoria cosmológica e esclarece o que ele entende por verdade. A definição do Ser para Parmênides é um dos pontos mais importantes, para ele o Ser é um, imperecível e indivisível. Nas reflexões de Parmênedes observamos a força do Nóos, na observação das coisas ausentes, quando o filósofo sugere que a verdade se institui no e pelo diálogo.

silvanaauarek
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Parmênides é, para mim, uma das figuras mais complexas expostas até aqui. Isso porque é um dos primeiros a começar a pensar um dos caminhos oposto ao que me apego tanto (o materialismo), aproximar esse filosófo da metafísica, no entanto, pode ser exagero da minha parte? pode. acredito que seja? não. Enfim, agradeço de verdade pelas exposições acerca do Objeto e das inter-relações, suas aulas tem sido guias essenciais e demoro tanto a comentar entre uma aula e outra justamente por isso, antes não conseguia estudar literatura/ filosofia grega porque não sabia por onde começar, agora fico presa nos assuntos...

victoriafernanda