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Como o racismo interrompeu a carreira do árbitro Marcio Chagas

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Tinha ambição de chegar ao quadro da Fifa, mas não consegui. Nem vejo isso como derrota. O futebol tem suas particularidades. A sua política.
No terceiro episódio que passei de racismo, em 2014, ouvi xingamentos por quatro vezes, antes de começar a partida, no fim do primeiro tempo, no intervalo e ainda ao encerrar a partida. "Negro", "Macaco", "Ladrão", "Volta pra Selva", "Volta pra África"... E o pior: "Matar negro não é crime, é adubar a terra". Eu estive acompanhado em todo o momento pela Brigada Militar, que não fez absolutamente nada. Quer dizer, quem deveria me dar segurança e proteção estava compactuando com todo aquele crime.
Eu imaginei que o pior tinha passado, mas ao tentar deixar o estádio meu carro estava amassado e coberto de cascas de banana. Ao dar a partida, tinham duas bananas no escapamento. Entendi, então, que era hora de fazer algo de uma vez por todas.
Ou eu avançava nisso ou eu me calava. E se eu não fizesse algo, não teria coragem de olhar na cara dos meus filhos.
Denunciei e ainda tive de ouvir o presidente da FGF me questionando, dizendo que eu estava expondo clube, Federação e um amigo dele. Eu perguntei: "E eu, como fico nessa história?". Ele respondeu que nós estávamos acostumados com isso, que pagava o conserto do carro. É isso o que vivemos no futebol. Uma estrutura fascista, escravagista, em que se perpetuam cadeiras familiares, trocando as pessoas, geração a geração, sempre ocupando aquele espaço.
O que estamos fazendo aqui é resistência. Falando de um assunto que os clubes não querer abordar, que dizem que é chato, não precisa. Porque não é interessante politizar o ambiente. Quem está na esfera de poder é politizado e não quer que a parte mais baixa da pirâmide participe. O que mais se vê nos clubes é movimento político por conselhos e cargos. Como política e futebol não se misturam? Misturam, sim. Temos de ter força para potencializar esse assunto nesse momento para que continue depois.
O que mais falta no futebol é a mentalidade coletiva. Ficamos nesse discurso do preto vencedor. O que é de uma crueldade tremenda. Só conta os louros. Dos casamentos, não dos divórcios.
A CBF é oportunista. Em cima de alguns casos, compra e banca uma propaganda midiática, mas não tem um trabalho efetivo de combate. O Marcelo nunca foi abordado pra falar sobre o trabalho que realiza. A CBF não tem interesse em combater. É outra entidade que adota um discurso da meritocracia. Sabe quantos árbitros negros no Brasil tem apitando?
O futebol brasileiro adota um discurso de democracia racial e até de alienação. Não colabora quase em nada para a consciência racial. Até me surpreendeu alguns brasileiros que jogam no exterior. Parece que temos de importar o debate. Os jogadores poderiam contribuir de maneira efetiva, não só com faixa e camiseta.
No terceiro episódio que passei de racismo, em 2014, ouvi xingamentos por quatro vezes, antes de começar a partida, no fim do primeiro tempo, no intervalo e ainda ao encerrar a partida. "Negro", "Macaco", "Ladrão", "Volta pra Selva", "Volta pra África"... E o pior: "Matar negro não é crime, é adubar a terra". Eu estive acompanhado em todo o momento pela Brigada Militar, que não fez absolutamente nada. Quer dizer, quem deveria me dar segurança e proteção estava compactuando com todo aquele crime.
Eu imaginei que o pior tinha passado, mas ao tentar deixar o estádio meu carro estava amassado e coberto de cascas de banana. Ao dar a partida, tinham duas bananas no escapamento. Entendi, então, que era hora de fazer algo de uma vez por todas.
Ou eu avançava nisso ou eu me calava. E se eu não fizesse algo, não teria coragem de olhar na cara dos meus filhos.
Denunciei e ainda tive de ouvir o presidente da FGF me questionando, dizendo que eu estava expondo clube, Federação e um amigo dele. Eu perguntei: "E eu, como fico nessa história?". Ele respondeu que nós estávamos acostumados com isso, que pagava o conserto do carro. É isso o que vivemos no futebol. Uma estrutura fascista, escravagista, em que se perpetuam cadeiras familiares, trocando as pessoas, geração a geração, sempre ocupando aquele espaço.
O que estamos fazendo aqui é resistência. Falando de um assunto que os clubes não querer abordar, que dizem que é chato, não precisa. Porque não é interessante politizar o ambiente. Quem está na esfera de poder é politizado e não quer que a parte mais baixa da pirâmide participe. O que mais se vê nos clubes é movimento político por conselhos e cargos. Como política e futebol não se misturam? Misturam, sim. Temos de ter força para potencializar esse assunto nesse momento para que continue depois.
O que mais falta no futebol é a mentalidade coletiva. Ficamos nesse discurso do preto vencedor. O que é de uma crueldade tremenda. Só conta os louros. Dos casamentos, não dos divórcios.
A CBF é oportunista. Em cima de alguns casos, compra e banca uma propaganda midiática, mas não tem um trabalho efetivo de combate. O Marcelo nunca foi abordado pra falar sobre o trabalho que realiza. A CBF não tem interesse em combater. É outra entidade que adota um discurso da meritocracia. Sabe quantos árbitros negros no Brasil tem apitando?
O futebol brasileiro adota um discurso de democracia racial e até de alienação. Não colabora quase em nada para a consciência racial. Até me surpreendeu alguns brasileiros que jogam no exterior. Parece que temos de importar o debate. Os jogadores poderiam contribuir de maneira efetiva, não só com faixa e camiseta.
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