Livros Sapienciais: introdução e Jó - CURSO BÍBLICO (AT) - 09/10/2019

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OS LIVROS SAPIENCIAIS

Após os livros históricos, o cânon do Antigo Testamento apresenta os livros sapienciais ou didáticos, que são: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico ou Sirácida.

Os livros sapienciais cultivam a Sabedoria. Por sabedoria entendiam os judeus mais antigos um conjunto de normas que guiavam a vida prática e moral dos jovens e dos adultos. Todo povo tem sua sabedoria de vida expressa, não raro, em provérbios, como: "Quem vai ao vento, perde o assento", "Um dia é da caça, outro dia é do caçador"... Essa sabedoria foi sendo cultivada com especial interesse desde a instauração da monarquia em Israel (séc. XI a.C.): na corte do rei, os sábios instruíam os jovens sobre o comportamento a assumir durante as refeições, diante dos amigos, dos estranhos, dos tribunais, no comércio, etc.; ver Pr 1,2-6; 10,1.5.16; 11,1; 12,4.11.28..,; Eclo 10,1-5; 11,7-9.29-34; 13,1-3... O rei Salomão ficou sendo, para os judeus, o rei sábio por excelência, mais sábio do que os outros reis e sábios dos povos vizinhos (que também cultivavam a sabedoria); ver 1 Rs 5,9-14.

Aos poucos a sabedoria foi tomando caráter religioso; tem suas raízes no temor do Senhor e procura agradar a Deus; ver Pr 1,7; 6,16; Jó 28,28; Eclo 1,11-21... É um dom que o Senhor concede; ver Jó 32,8; Ecl 2,26; Eclo 1,1; 2,6s; Sb 7,27...

Com o tempo, os sábios atribuíam ao próprio Deus a sabedoria; Deus realizou a obra da criação com sabedoria; ver Pr 8,32-36; Eclo 24,1-22; Sb 1,4s. Mais ainda: a sabedoria de Deus foi tão estimada que os sábios a descreveram como uma pessoa subsistente ao lado de Deus (está claro que os judeus não chegaram a entrever o mistério da SS. Trindade; a personificação da sabedoria ficou no plano meramente poético); ver Pr 8,1-21; Eclo 24,1-31; Sb 7,22-30; Jó 28,1-28. S. Paulo, desenvolvendo o pensamento judaico, dá a Cristo (2a pessoa da SS. Trindade feita homem) o título de "Sabedoria de Deus" (cf. 1 Cor 1,24).

Durante o exílio (587-538 a.C.) e depois, os sábios foram tomando importância crescente no povo de Israel. Ajudavam os israelitas a refletir sobre a sua história, sobre as promessas de Deus, sobre o sentido da deportação... reliam com os fiéis deprimidos as Escrituras antigas e explicavam-nas em seu sentido mais profundo; ver Eclo 17,1-14; 44,1-50,24; Sb 10,1-19,21. Precisamente dessa reflexão sobre o sofrimento e a Providência resultaram os livros de Jó e do Eclesiastes. Por causa do seu papel de relevo em Israel, os sábios (também ditos "escribas") fizeram as vezes dos profetas, que se tornaram raros depois do exílio; embora com menos rigor de linguagem do que os Profetas, orientavam os fiéis
no caminho da piedade e da fidelidade à Lei de Deus.

Dentre os sete livros sapienciais, Jó, Pr, Ecl, Eclo, Sb, representam bem as expressões da sabedoria administrativa, moral e religiosa de israel. Os livros dos Salmos e do Cântico menos adequadamente são enumerados nessa categoria.

O LIVRO DE JÓ

O livro de Jó aborda o problema do sofrimento do homem reto; por que sofrem os bons? A tese mais antiga em Israel afirmava que todo sofrimento é castigo dos pecados do indivíduo, ao passo que vida longa, saúde, dinheiro, boa fama seriam o prêmio dado pelo Senhor aos seus fiéis; cf. Dt 8,6-18; 28,1-30,20; SI 33(34), 13-15; Pr 3,7.13-18...

Esta concepção se impunha aos judeus pelo fato de que ignoravam a existência de uma vida póstuma consciente; julgavam que, após a morte, o indivíduo perdia a lucidez da mente e se encontraria adormecido no xeol, incapaz de receber alguma sanção. Por isto admitiam a retribuição do bem e do mal nesta vida mesma. Eis, porém, que, com o decorrer do tempo, esta
concepção se evidenciou discutível; na verdade, nem sempre os bons são recompensados pelo Senhor com os favores desta vida e nem sempre os maus são punidos com doença e miséria; os Profetas e sábios foram notando isto em Jr 12,1-6; Si 76(77); MI 3,14-16; Ecl 7,15s; 8,14.

Sobre este pano de fundo foi escrito o livro de Jó. O autor apresenta um homem reto, Jó, que perde seus bens e sua saúde (Jó 1,1-2,10). Três amigos comparecem para fazer-lhe companhia e lhe recomendam que acuse seus pecados, pois, se foi ferido de tal maneira, deve ter graves faltas, Jó, porém, afirma sua inocência e julga que a sua situação é inexplicável (4,1-31,40); apela para o juízo de Deus(31,35s). Aparece então um jovem chamado Eliu, que, em parte, confirma os dizeres dos amigos de Jó, em parte tenta nova explicação (Deus pode permitir o sofrimento dos bons para preservá-los do orgulho); cf. cc. 32-37. Finalmente Deus intervém majestosamente e impõe o silêncio a Jó e seus amigos; ninguém é capaz de sondar os desígnios da Providência Divina; Deus é sábio demais para que o homem lhe possa pedir contas dos seus planos; cf. cc. 38-41. Jó então reconhece sua incapacidade de julgar Deus (42,1-6). Deus o recompensa, restituindo-lhe a saúde e os bens materiais (42,7-17).
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