MANGUEIRA 2019 - Alegoria 02“O SANGUE RETINTO POR TRÁS DO HERÓI EMOLDURADO”

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Alegoria 02
“O SANGUE RETINTO POR TRÁS DO HERÓI EMOLDURADO”

Batizado de “HERÓIS DE LUTAS INGLÓRIAS” –
ou seja, a luta que não resulta em êxito – o segundo
setor do desfile da Mangueira revela os nomes - e as
lutas – de lideranças e tribos indígenas envolvidas em
um amplo e complexo processo de resistência, todavia,
levados ao ostracismo, vítimas de uma construção
histórica excludente. Para encerrar a abordagem do
contexto indígena no enredo proposto, a alegoria “O
SANGUE RETINTO POR TRÁS DO HERÓI
EMOLDURADO” lança luz em um controverso
monumento, símbolo eficaz para a exemplificação do
fato das versões históricas oficiais - e seus respectivos
“heróis” - serem construídas a partir da eleição de
“pontos de vista” no qual os vencedores são
enaltecidos em detrimento dos vencidos, independente
dos meios utilizados para a justificativa de seus fins.
Ao centro da alegoria, o conjunto escultórico
menciona um dos mais famosos monumentos
históricos construídos no Brasil: o Monumento às
Bandeiras. As bandeiras - ou “entradas” - foram
expedições empreendidas à época do Brasil Colonial,
com fins tão diversos quanto a exploração territorial, a
busca de riquezas, e a captura de indígenas ou de
africanos escravizados. Os Bandeirantes, ou seja, os
homens à frente dessas expedições, foram
responsáveis por massacres, estupros, escravização e
incêndios em um número sem fim de aldeias indígenas
brasileiras.
Compreender como esses homens alcançaram
“contorno heroico” e tornaram-se merecedores de um
monumento no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, é
entender um pouco de como a narrativa histórica - e a
construção de seus mitos - é fundamental para a
representatividade de ideais no imaginário popular.
Data dos anos 30, quando a oligarquia paulista
precisava de argumentos para unir sua população em
torno de um sentimento comum, sendo os bandeirantes
então escolhidos como símbolos de uma causa maior.

A máxima do herói bandeirante passou a ser usada como
ideário paulista, ensinada nos livros, retratada com
romantismo em quadros encomendados que passaram a
apresentá-los como os “desbravadores” dos sertões
brasileiros durante os séculos XVII e XVIII. Assim, a
história dos mais de 300.000 índios capturados e
escravizados pelas bandeiras, bem como sua vida de
miséria e doença, caíram no ostracismo.
O que a construção estética da alegoria sugere é
exatamente isso. Na parte “superior”, a menção
escultórica ao monumento tingido de dourado, símbolo
de poder. Na parte “inferior”, índios e bichos tingidos de
vermelho revelam um visual que sugere “caos”, morte,
terror e “extermínio”. É o sangue por trá s, ou abaixo, do
“herói emoldurado”. O tal “país que não está no retrato”.
Destaque para as inscrições grafitadas no monumento.
Simbolicamente, é o “presente” denunciando o “passado
omitido dos heróis emoldurados”.

DESTAQUE CENTRAL BAIXO: “O BANDEIRANTE
ANHANGUERA” – O bandeirante Anhanguera ganha
contorno permissivo e carnavalesco através da figura do
destaque “Santinho”. “Diabo velho” em tupi guarani,
Anhanguera – “Anhanga”, diabo + “ûera”, velho - é o
apelido compartilhado por dois bandeirantes - pai e filho
- ambos chamados Bartolomeu Bueno da Silva. Diante
da alcunha dada pelos índios, imagina-se que pai e filho
não foram humanos dóceis no trato com os indígenas
encontrados nos caminhos que percorreram ao longo dos
séculos XVII e XVIII. Ateando fogo em aldeias e ao
custo do aprisionamento humano, as expedições por eles
lideradas deixaram sangrentas marcas na memória dos
povos indígenas do Brasil. Curiosamente, para a história
oficial, o nome “Bartolomeu Bueno da Silva” entrou
para a galeria de homens ilustres, símbolo de progresso e
valentia, sendo pai e filho merecedores de uma vasta
gama de homenagens públicas.

De forma alheia aos assassinatos por eles cometidos, em
homenagem a seus nomes, está erguida uma estátua do
artista italiano Luigi Brizzolara em frente ao Museu de Arte
de São Paulo (MASP). Pai e filho também dão nome a uma
retransmissora afiliada da rede Globo em Goiás e
Tocantins, além de batizarem ruas, praças e avenidas, entre
elas, uma das mais importantes rodovias do Estado de São
Paulo, a “Rodovia Anhanguera”.

COMPOSIÇÕES GERAIS: O GENOCÍDIO INDÍGENA –
O figurino dos homens e das mulheres que compõem a
alegoria remete à estética indígena, sendo o uso da cor
vermelha e a presença de uma caveira como adereço de
mão, menções diretas ao “sangue derramado” e à morte dos
índios, vítimas das bárbaras ações dos bandeirantes.
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