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Retrato e m Branco e Preto João Gilberto TV Tupi 1971
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JOÃO GILBERTO – RETRATO EM BRANCO E PRETO (1971)
TUPI OR NOT TUPI
FOI EM 7 AGOSTO DE 1971. A TV Tupi estava produzindo um Programa Especial com João Gilberto, Caetano e Gal. Um Especial muito especial, porque Caetano ainda estava exilado em Londres e João Gilberto vinha dos EUA. Era um primeiro passo para o retorno de Caetano e Gil, que a ditadura militar obrigara a sair do país. Estavam previstos dois dias de gravação, num fim de semana. Foram ao todo cerca de sete horas de gravação, começando no sábado com João e Gal e se estendendo pelo domingo, dia em que Caetano chegaria. João era esperado no sábado, dia 7, para começar a gravar com Gal. Fernando Faro, que organizara o evento, junto com Alvaro Moya, Cyro del Nero e Otavio III, achou de bom aviso convidar alguns admiradores de João, entre os quais Walter Silva (Picapau), Julio Medaglia, Rogerio Duprat, Décio Pignatari e eu. A entrada dele nos estúdios estava prevista para as 18 h, todos os técnicos a postos. Passou-se o tempo e João não aparecia. Lá pelas 20 h, os convidados começaram a se dispersar, agastados, achando que era folga demais do cantor. Do comitê de recepção ficamos só o radialista Walter (Pica-Pau) Silva e eu. Relutantes, eiamos embora também, quando Walter me sugeriu que jantássemos num restaurante próximo para batermos um papo. Terminada a refeição, ele me disse: — Que tal darmos uma chegada à Tupi para ver como estão as coisas? Já eram quase 22 hs. Ao nos encaminharmos para o prédio da TV, vinham chegando João e Gal. Havia um pequeno palco para onde se dirigiram os dois. Lá estava também o guitarrista Lanny Gordin, que deveria participar do Especial. Logo de saída, Faro me empurrou para o palco onde eu, de fato, não tinha nada o que fazer. Não estava nada combinado e eu fiquei só assistindo. A certa altura, depois de afinar o violão, João começou a cantar — para minha surpresa e emoção — “Quem há de dizer”, de Lupicínio. Não era do seu repertório. Teria lhe chegado o meu artigo “Lupicínio esquecido?”, publicado no “Correio da Manhã” carioca (3-9-67 e 24-9-67)? Nada me disse. Me lembro de ter dito a ele: — Quem cantava isso era Francisco Alves. Seu rosto se iluminou: — Chico Alves! E cantou o mais lindo que é possível cantar a belíssima composição, que tem versos incomuns como o icônico (luz que reverbera em vogais abertas): “Repare bem, que toda vez que ela fala/ Ilumina mais a sala/ Do que a luz de um refletor.” No dia seguinte a gravação continuaria com Caetano. Eu e Lygia estávamos entre os convidados. Quando o programa foi ao ar, em 20 de setembro, eu estava nos EUA. Só o que se passou no domingo seria editado, em formato de apenas duas horas e meia. Todo picotado de anúncios, ficou muito aquém do que deveria ser o registro dos momentos mágicos que aconteceram naqueles dois dias. Mas ainda assim foi extraordinário. Segundo consta, o video-tape acabou se perdendo num incêndio ocorrido na TV Tupi em 1978. Fernando Faro salvou o áudio ou parte dele numa fita de rolo. Ganhei dele um K-7, onde se pode ouvir, além de Quem há de dizer”, gravação de “Retrato em Branco e Preto” de Tom Jobim e Chico Buarque (a mais linda e agônica interpretação de João dessa bela obra, subindo e descendo com a voz na mais imprevisível e impactante subversão intervalar) e algumas outras jóias, como “Odette”. João nunca gravou em disco “Quem há de dizer”. E o “Retrato em Branco & Preto” nunca mais foi o mesmo.
TUPI OR NOT TUPI
FOI EM 7 AGOSTO DE 1971. A TV Tupi estava produzindo um Programa Especial com João Gilberto, Caetano e Gal. Um Especial muito especial, porque Caetano ainda estava exilado em Londres e João Gilberto vinha dos EUA. Era um primeiro passo para o retorno de Caetano e Gil, que a ditadura militar obrigara a sair do país. Estavam previstos dois dias de gravação, num fim de semana. Foram ao todo cerca de sete horas de gravação, começando no sábado com João e Gal e se estendendo pelo domingo, dia em que Caetano chegaria. João era esperado no sábado, dia 7, para começar a gravar com Gal. Fernando Faro, que organizara o evento, junto com Alvaro Moya, Cyro del Nero e Otavio III, achou de bom aviso convidar alguns admiradores de João, entre os quais Walter Silva (Picapau), Julio Medaglia, Rogerio Duprat, Décio Pignatari e eu. A entrada dele nos estúdios estava prevista para as 18 h, todos os técnicos a postos. Passou-se o tempo e João não aparecia. Lá pelas 20 h, os convidados começaram a se dispersar, agastados, achando que era folga demais do cantor. Do comitê de recepção ficamos só o radialista Walter (Pica-Pau) Silva e eu. Relutantes, eiamos embora também, quando Walter me sugeriu que jantássemos num restaurante próximo para batermos um papo. Terminada a refeição, ele me disse: — Que tal darmos uma chegada à Tupi para ver como estão as coisas? Já eram quase 22 hs. Ao nos encaminharmos para o prédio da TV, vinham chegando João e Gal. Havia um pequeno palco para onde se dirigiram os dois. Lá estava também o guitarrista Lanny Gordin, que deveria participar do Especial. Logo de saída, Faro me empurrou para o palco onde eu, de fato, não tinha nada o que fazer. Não estava nada combinado e eu fiquei só assistindo. A certa altura, depois de afinar o violão, João começou a cantar — para minha surpresa e emoção — “Quem há de dizer”, de Lupicínio. Não era do seu repertório. Teria lhe chegado o meu artigo “Lupicínio esquecido?”, publicado no “Correio da Manhã” carioca (3-9-67 e 24-9-67)? Nada me disse. Me lembro de ter dito a ele: — Quem cantava isso era Francisco Alves. Seu rosto se iluminou: — Chico Alves! E cantou o mais lindo que é possível cantar a belíssima composição, que tem versos incomuns como o icônico (luz que reverbera em vogais abertas): “Repare bem, que toda vez que ela fala/ Ilumina mais a sala/ Do que a luz de um refletor.” No dia seguinte a gravação continuaria com Caetano. Eu e Lygia estávamos entre os convidados. Quando o programa foi ao ar, em 20 de setembro, eu estava nos EUA. Só o que se passou no domingo seria editado, em formato de apenas duas horas e meia. Todo picotado de anúncios, ficou muito aquém do que deveria ser o registro dos momentos mágicos que aconteceram naqueles dois dias. Mas ainda assim foi extraordinário. Segundo consta, o video-tape acabou se perdendo num incêndio ocorrido na TV Tupi em 1978. Fernando Faro salvou o áudio ou parte dele numa fita de rolo. Ganhei dele um K-7, onde se pode ouvir, além de Quem há de dizer”, gravação de “Retrato em Branco e Preto” de Tom Jobim e Chico Buarque (a mais linda e agônica interpretação de João dessa bela obra, subindo e descendo com a voz na mais imprevisível e impactante subversão intervalar) e algumas outras jóias, como “Odette”. João nunca gravou em disco “Quem há de dizer”. E o “Retrato em Branco & Preto” nunca mais foi o mesmo.
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