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Finalmente Carlos ia-se formar em medicina.
A vocação de Carlos para a medicina surgiu quando ele era muito mais novo, num dia em que ele descobriu no sótão, entre coisas velhas, umas estampas anatómicas. Passou o dia de volta das tais estampas e foi nesse momento que a curiosidade pela medicina de Carlos surgiu. Apesar desta paixão pela medicina, todos os familiares, mais próximos e amigos, acharam sempre que este rapaz ia seguir direito. No entanto, apesar de Carlos adorar medicina, esta paixão não era muito aprovada pelas pessoas (amigos mais próximos) de Santa Olávia, as mulheres, principalmente, achavam um desperdício este rapaz tão bonito, charmoso, seguir para uma profissão em que tivesse que mexer em cadáveres e sangue. Respondendo a esta indignação das pessoas, Afonso diz que educou o seu neto para ser bem-sucedido e não educou um Zé-ninguém, disse até que educou o neto para ser útil para o país. Sendo esta uma época em que ficar doente era já um hábito, segundo Afonso, o “maior serviço patriótico” é saber curar.
Carlos, enquanto estudou no Liceu, em Coimbra, interessou-se sempre mais por anatomia. Numas férias, a criada Gertrudes, num momento em que desfazia as malas de Carlos, fugiu espavorida, ao deparar com uma caveira. Aliás, sempre que algum criado da quinta adoecia, Carlos consultava os livros, tentando fazer diagnósticos, e já merecia o respeito do médico da quinta, que o tratava por colega. Alguns frequentadores da quinta viam o Direito como uma escolha mais acertada para um fidalgo de tão alta classe, mas Afonso entendia que a opção do neto deveria ser levada muito a sério, querendo que Carlos viesse a ser útil ao país, tal como o mais vulgar cidadão.
Para se instalar em Coimbra, Carlos teve direito a verdadeiras honras de fidalgo, já que o avô lhe preparou uma casa em Celas, que recebeu a alcunha de “Paços de Celas “, devido à raridade dos seus luxos.
No início, a paixão pela medicina de Carlos, inspirou a desconfiança dos mais democratas, mas a constatação do interesse de Carlos pelos ideais revolucionários depressa venceu as distâncias e por fim os “Paços de Celas “eram frequentados por pessoas das mais diversas ideologias.
Carlos, ao mesmo tempo que se dedicava à Medicina, ocupava-se também com a Arte e a Literatura, tendo publicado alguns sonetos e um artigo sobre o Pártenon e tendo mesmo chegado a compor contos arqueológicos e a tentar a pintura a óleo.
Carlos passava as férias grandes em Lisboa, Paris ou Londres, mas os Natais e Páscoas eram passados em Santa Olávia, cujo Afonso ia embelezando com luxos de um requinte francês e inglês, mas a existência neste espaço ia-se tornando mais triste, devido à doença, ao envelhecimento e à morte de alguns dos seus habituais frequentadores. Carlos recebeu com alegria a visita do seu amigo Ega, que lhe anunciou que ia publicar o livro que andava a escrever havia já alguns anos – “Memórias de um Átomo” – que todos os que tinham ouvido falar esperavam com impaciência.
Embora os amigos não levassem estes preparativos a sério, Carlos abusou do luxo na decoração do seu consultório e eram de tal modo sérios os seus projetos de trabalho que chegou a fazer anunciar no jornal a abertura deste consultório.
Ega apreciava o consultório, pasmado com o seu luxo, e Carlos apreciava também Ega, elogiando a sua figura e querendo obter esclarecimentos sobre uma Madame Cohen, de quem Ega lhe falava nas cartas e que era, afinal, a mulher do banqueiro Cohen, com quem Ega alimentava uma aventura.
Carlos e Ega discutiam as novas ideias, comentando o atraso de Portugal, mas, quando bateram as quatro horas, Ega apressou-se a sair, revelando sinais de aventura. À saída, Ega ainda informou Carlos que iria publicar o seu livro, aquele livro sobre o qual tinha falado durante dois anos, cujo título seria “ Memórias de Um Átomo “ e cujo assunto seria a “ História das grandes fases do Universo e da Humanidade “.
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